Extensão
IF Educa 4.0: projeto incentiva fortalecimento da cultura sociodigital
É inegável que o uso das tecnologias, em suas mais diferenciadas formas, tem se tornado imprescindível em diversas áreas da sociedade, transformando o dia a dia das pessoas, seja no trabalho, em casa ou mesmo em momentos de lazer.
No campus Petrolina Zona Rural do IFSertãoPE, o Núcleo de Extensão Tecnológica IF Educa 4.0 vem se tornando referência ao promover, incentivar e dar suporte a projetos que fortaleçam a cultura sociodigital e o desenvolvimento de competências voltadas para o empreendedorismo, inovação e o uso das tecnologias digitais da Economia 4.0.
O IF Educa 4.0 teve início em 2020, com aprovação no Edital IFES de apoio à Iniciação Tecnológica com foco na Economia 4.0, tendo patrocínio do Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), que deu suporte financeiro para compra de equipamentos e contratação de bolsistas, e parceria da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Petrolina e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia.
A iniciativa partiu da união de cinco professores de áreas distintas, mas que ao mesmo tempo dialogavam em seus propósitos: a coordenadora do projeto, Andréa Nunes (Entomologia Agrícola), Rosemary Barbosa (Agronegócio), Jeane Silva (Administração), Marlon Gomes (Irrigação) e Pablo Teixeira (Construções Rurais e Ambiência).
Inicialmente, o foco foi capacitar adolescentes de escolas públicas, de 8.º e 9.º anos e posteriormente do 6.º ao 9.º ano do Ensino Fundamental, em comunidades de vulnerabilidade social no Município de Petrolina-PE, de forma a contribuir para a inclusão digital e aprendizagem. Já nas primeiras ações, a equipe enfrentou o desafio de reinventar seu planejamento em decorrência das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. “Em plena pandemia, começamos a mobilizar o grupo para escrever o projeto e os treinamentos, que inicialmente seriam presenciais, mas foi necessário transformá-los em online. Em 2021, iniciamos de forma híbrida e a partir daí o Núcleo passou a se fortalecer”, afirmou Andréa.
O projeto foi executado em escolas públicas municipais e estaduais de Petrolina-PE, através da oferta de formação voltada para inclusão digital para adolescentes. A capacitação foi em formato de curso de aperfeiçoamento, denominado “Empreendedorismo e as Tecnologias Digitais na Economia 4.0”, composto por oficinas que variavam de 20 a 160 horas/aula.
As oficinas abrangeram as seguintes temáticas: Empreendedorismo e Inovação; Inteligência Artificial; Programação Computacional, Tecnologias na Agricultura e Cultura Maker. As atividades foram executadas pelos campi Petrolina Zona Rural e Ouricuri do IFSertãoPE, através do professor Roniedson Fernandes, com parceria das Secretarias de Educação e Inovação e Tecnologia de Petrolina, de janeiro de 2021 a abril de 2024, em sete escolas municipais e duas estaduais.
Entre as atividades desenvolvidas pelos alunos, foi realizada a construção de protótipos (armadilhas inteligentes; pluviômetros); montagem e programação de circuitos eletrônicos para ligar e piscar LEDs; sensor de temperatura; sinalizador de garagem; carrinhos com materiais recicláveis movido a luz e diversas atividades lúdicas e de raciocínio lógico.
De projeto a Núcleo de Extensão e Pesquisa
Atualmente, o IF Educa 4.0 ampliou as suas ações e objetivos, passando a abarcar projetos de pesquisa e extensão, além de iniciativas de ensino, voltados para a área da tecnologia, inovação e empreendedorismo. “Além da capacitação, do letramento digital que fazemos com alunos do Ensino Fundamental, que é o público-alvo nosso, a gente trouxe maior corpo quando introduziu as ações de pesquisas voltadas para a agricultura e pecuária digital”, afirmou o professor Pablo Teixeira.
Parte das atividades do Núcleo acontece no Laboratório IF Educa, localizado no campus Petrolina Zona Rural. “Criamos uma rede que trabalha a aplicação da tecnologia dentro da agricultura e pecuária, o que é uma vertente atual do mercado. Nossos estudantes precisam estar preparados e é um universo que se abre, precisando de investimento em fomento, em equipamentos, mas também em conhecimento. A gente precisa investir em aprender muito mais”, considerou Pablo.
Na área da pesquisa, uma das vertentes do trabalho realizado é o uso da tecnologia para otimização de processos de produção, aumentando a capacidade de monitoramento dos processos produtivos, garantindo antecipação dos problemas e melhorando a tomada de decisão, com desenvolvimento de sistemas de baixo custo, acessíveis ao produtor.
Na extensão, o foco são as oficinas, atualmente voltadas para associações, sindicatos, pequenos produtores, além dos estudantes de Ensino Fundamental de escolas públicas. “Esse ano estamos retomando as ações, com uma diversificação e um grupo maior que consegue atender de forma mais efetiva o entorno. Temos previsão de desenvolver oficinas de empreendedorismo e teatro e empreendedorismo e inovação, trabalhando a parte de comunicação, expressão corporal, desenvolvimento da fala, autoimagem”, explicou a professora Jeane Silva. No mês de outubro, está prevista também a realização de oficina com adolescentes do sexto ao nono ano com necessidades específicas.
Já no ensino, a utilização das metodologias ativas leva a se pensar em uma Educação 4.0. “A gente não só trabalha com a robótica, com a programação computacional. A gente trabalha também com empreendedorismo, com marketing digital, com inovação, com empoderamento”, explicou Andréa Nunes.
O movimento que vem dos estudantes
Além dos professores, o Núcleo IF Educa 4.0 movimenta-se e ganha ainda mais vida e importância pelas atividades diárias dos estudantes, sejam bolsistas ou voluntários, que atuam com a pesquisa, a extensão e auxiliando no processo de ensino-aprendizagem da instituição.
O grupo é bastante heterogêneo, com alunos do curso Médio em Agropecuária, de cursos Subsequentes e dos Superiores em Agronomia e Viticultura e Enologia, mas que têm uma inclinação em comum: o gosto pela tecnologia.
Henrique Breno e Marcos Tolentino são estudantes de Agronomia e foram bolsistas do projeto IF Educa 4.0 no início de suas atividades. Ainda hoje, no entanto, permanecem no Núcleo, atuando em projetos paralelos. “Vejo a grande importância das oficinas que a gente ministrou nas escolas, porque foi uma introdução do que é tecnologia. Eu mesmo não tive a oportunidade de ter esse contato cedo e, pessoalmente, trabalhei a questão da comunicação, que tinha dificuldade”, disse Henrique. Para Marcos, a oportunidade de atuar para além dos muros da instituição é muito gratificante. “Temos o contato com o município, outras escolas, assentamentos. É transformador”.
Antônio Henrique e Hércules Feitosa, também estudantes de Agronomia e atuantes no IF Educa há mais de dois anos, já conquistaram resultados bastante significativos. Um deles foi a premiação no Congresso Nordestino de Produção Animal, com um projeto de controle térmico de instalações de suínos através do uso da inteligência artificial. “O trabalho premiado buscou gerar um sistema que ajudasse os suínos a fazer a termorregulação, mantendo-se em conforto térmico e, consequentemente, elevando os seus índices produtivos. Conseguimos elaborar um sistema para nos dizer a frequência respiratória e a temperatura retal dos suínos, a partir de indicadores do ambiente térmico como a temperatura do ar e a temperatura superficial do animal. Este algoritmo de IA permitirá a criação de um sistema de monitoramento e controle térmico de suinoculturas mais eficiente e ambientalmente sustentável. O IF Educa foi algo que mudou totalmente a minha formação. A gente se sente muito motivado, temos contato com pessoas de outros cursos, outras turmas, com o gosto em comum pela tecnologia”, afirmou Antônio Henrique.
Hércules iniciou como voluntário e tornou-se bolsista de iniciação científica. Além do congresso em que foi premiado, já participou de outros eventos científicos, feiras. “Aqui no laboratório do IF Educa a gente se sente seguro, é onde a gente pode errar para ir lá pra fora preparado”.
Os estudantes trabalham com prototipação em busca de otimização de processos. Entre as atividades, está a projeção e desenvolvimento de peças nas impressoras 3D e a laser. “Termina unindo tudo que a gente aprende. A gente produz tudo do zero. Vê um problema e busca a solução”, explicou Antônio Henrique.
Luana Raiane, estudante de Viticultura e Enologia, e Jaíne Gomes, de Agronomia, atuam há pouco tempo no Núcleo. Em comum entre os projetos trabalhados por ambas, está o empoderamento. Jaíne atua com jogos envolvendo Matemática e Empreendedorismo Rural e Luana trabalha o empoderamento feminino com crianças, através de oficinas. “Queremos quebrar tabus e que as mulheres ocupem cada vez mais espaços nas áreas que envolvem a tecnologia, sem medo e sem preconceitos”, disse Luana.
Eduardo Ferreira é ex-aluno de Agropecuária e atualmente cursa Licenciatura em Computação no campus Petrolina e atua no IF Educa desenvolvendo armadilhas inteligentes para detecção de pragas “Acho muito importante fazer parte do IF Educa, porque são muitos projetos trabalhando juntos e vamos tendo o apoio um dos outros, a gente ajuda no projeto de outra pessoa”, considerou.
Marcos Amorim é estudante do segundo ano de Agropecuária e decidiu entrar no IFSertãoPE após participar de uma oficina ministrada pelo IF Educa, na escola Júlia Elisa Coelho, onde cursava o Ensino Fundamental. “O IF Educa foi apresentar seu trabalho lá e me interessei. Trabalhei nas oficinas, fui aprendendo o que era tecnologia, inovação, empreendedorismo, e depois eles explicaram sobre o IF. Quando terminei o Ensino Fundamental me interessei para vir estudar aqui. O professor Pablo me convidou para participar do IF Educa e hoje sou bolsista. Tenho interesse em continuar e ser estudante de Agronomia”, considerou.
Marcos não é o único exemplo de ter entrado em um dos cursos do IFSertãoPE inspirado pelo aprendizado promovido pelas oficinas do IF Educa 4.0. Mais de 15 alunos assistidos pelo projeto ingressaram em um dos cursos Médio Integrado da instituição em 2022.
“O objetivo do IF Educa foi alcançado nessa questão integradora, porque muitas coisas que os alunos estão tendo oportunidade de ver no laboratório não está nas ementas das disciplinas. Está somando o conhecimento de cada um aqui, é um benefício para todos”, afirmou o professor Marlon Gomes.
O Núcleo está aberto a receber novos estudantes.
Resultados
Para além do ganho diário na formação dos estudantes que integram o projeto, do aprendizado e da melhora da atuação dos professores envolvidos, o IF Educa 4.0 já alcançou resultados significativos.
Um deles foi a certificação de 339 adolescentes do 6º ao 9º ano, no Curso Empreendedorismo e as Tecnologias Digitais na Economia 4.0 e em Empreendedorismo e Inovação, em escolas públicas municipais e estaduais de Petrolina-PE. Promoveu a participação de mais de 2.300 pessoas em eventos envolvendo o público externo, como as edições do Bora Petrolina, Expovale e Semiárido Show.
Além disso, conquistou premiações na categoria Extensão Tecnológica na XVII Jornada de Iniciação Científica e Extensão (Jince)/2023) e realizou a publicação de dois e-books pela Editora IFSertãoPE: “Práticas Educacionais na Economia 4.0” e “Script de ideias: Guia didático de estratégias de ensino na Economia 4.0”.
“O projeto se transformou, privilegiando a aprendizagem colaborativa, cooperativa e autônoma, além de fortalecer a formação do Núcleo de Tecnologia no Campus Petrolina Zona Rural. É notório também o resultado do projeto no Campus, onde o estímulo à pesquisa e à tecnologia foi contagiante para os alunos participantes, desde os bolsistas e os voluntários, aumentando o número de estudantes a participarem das ações desenvolvidas pela equipe de professores, como também o envolvimento de outros servidores e a conexão com outras instituições, fortalecendo parcerias e vislumbrando parcerias futuras”, concluiu Andréa Nunes.